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O Grande Irmão

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Marcos Fábio

Essas semanas passadas foram sacudidas com a notícia de que os Estados Unidos nos espionam, cidadãos e instituições. O governo federal, numa demonstração teatralizada de indignação, vociferou pedir explicações, investigar, boicotar e outras ações igualmente ameaçadoras. “É um golpe na nossa soberania!”, gritaram os engravatados de plantão, loucos por desviarem a atenção das ruas flamejantes Brasil afora.

Mas o que há de tão estranho nisso? Acaso alguém, em sã consciência, ou de inteligência mediana, achava que esses sites de emails, ou os poderosos donos das redes sociais, dos sistemas de buscas e outras plataformas que acumulam nossas informações não sabem de tudo o que nós fazemos, falamos ou tramamos? Acaso algum governo medianamente amadurecido acha que os Estados Unidos não espionam tudo o que se passa nos limites do seu território? Acaso ninguém desconfiava que as informações estratégicas do mundo não circulam, numa rede subterrânea, por países que têm interesse em saber delas?

E sempre foi assim. Sempre os Estados Unidos espionaram seus inimigos, seus amigos e todos os que eles achavam que tinham algo importante que pudesse prejudicá-los ou beneficiá-los. Durante a guerra fria era pior, mas o alvo era mais localizado. Depois do 11 de setembro, o alvo se pulverizou: agora todos são alvo. São os norte-americanos contra o mundo. Exatamente como nos filmes da Marvel – nada mais idiossincraticamente americano do que os filmes da Marvel...

O cidadão comum também não está a salvo. Hoje há um mundo de câmeras que nos perscrutam. Um mundo de fones que nos escutam. Um mundo de programas que captam o que conversamos pela internet. E fazem de tudo com isso. Vendem nossos dados para outras empresas (daí você recebe um cartão de crédito e fica embasbacado de como eles souberam o seu endereço e o seu nome...), espionam nossa intimidade (às vezes para fins não tão nobres...), fuçam nossos textos para saber o que estamos pensando e fazendo.

Tudo isso me faz lembrar a aventura ficcional de George Orwell, que em 1949 imaginou um mundo em que tudo, absolutamente tudo, seria vigiado. '1984', o romance, criticava os regimes totalitários, com especial atenção para os comunistas. Nele, O Grande Irmão, o líder maior, era o ser ubíquo e onipresente, nada lhe escapava.

Orwell ressignificou o american way of life.
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